domingo, 28 de junho de 2015

Despedida



Devaneios De Um Cérebro Perturbado
Despida
«-Porque me queres? – por tudo, respondeu-lhe ela sorrindo.
Aquele sorriso que fazia sempre que lhe perguntava algo sobre si mesmo, sobre os sentimentos dela, sobre as dúvidas que tinha. E ela mexia com o seu cérebro, habituado a racionalizar e a não gostar de indecisões.
-Soube-o no instante em que a tua foto me apareceu no visor! – atirou-lhe ela com o olhar meigo.
Aquele olhar perdido que o desconcentrava, que o deixava ás vezes a pensar porque teria ela achado que era ele o homem certo, logo ele com problemas difíceis de resolver e convencido que sozinho se está mais apto para vencer obstáculos.

Mas ela sabia-o de cor, reconhecia-lhe cada olhar e cada sorriso, sabia quando estava bem ou nem por isso mesmo que não o visse todos os dias como tinha sido hábito. E lembrava-se, lembra-se, de cada beijo dado desde o primeiro que a arrebatou definitivamente. Porque lhe era tão difícil acreditar nela, acreditar que ela lhe dizia a verdade quando ousava afirmar-se sua como nenhuma outra?
Era imperfeito, indeciso por vezes, orgulhoso e não tolerava discussões mesmo que ás vezes inevitáveis, e era isso tudo que a deixava fora de si e ao mesmo tempo a levava a amá-lo cada dia mais; não era difícil gostar dele, e não era a personalidade calma nem a simpatia fácil, não era sequer o riso contagiante ou o facto de ser extremamente bonito, era uma questão de pele que a consumia como nenhum outro havia conseguido.
Desde aquele dia em que olhara atenta para uma foto perdida pela net que lhe achara graça, tinha um ar malandro e desafiador de quem sabe que atrai sem esforço, um hímen charmoso de mulheres (coisa que ela negava, não era bem assim-dizia); e depois o beijo, aquele primeiro beijo tímido que a conquistou definitivamente pelo calor dos seus lábios doces, suaves como cetim na noite em que decidiram tomar café após meses de espera, porque ela adiara com receios de quem acreditava que dele não conseguiria muito mais que uma simples amizade (mesmo com mensagens trocadas onde parecia haver já algum interesse).
Afinal, pensara ela, o que poderia um homem tão bonito querer com uma mulher tão normal e nada parecida com as brasileiras que ela soubera terem existido anteriormente, uma mulher calma e pouco vistosa para os padrões sociais (-isso não me interessa nada, eu não sou como os outros homens- dissera-lhe várias vezes).
-Mas afinal o que é que eu tenho assim de tão especial para me quereres? – o olhar brilhante dele a desafiá-la a falar.
-Tudo! – disse-lhe ela fixando-lhe a boca(aqueles beijos que a faziam tremer…)

E era mesmo isso, tudo nele a fazia querer abandonar-se à luxúria de dias serenos e uma vida completa. Ela sentia a necessidade de cuidá-lo, de protegê-lo das agruras da vida e de lhe mostrar que a vida pode ser tudo aquilo a que um ser humano se proponha alcançar; ela precisava de partilhar os seus sonhos com ele, dar-lhe horas de riso intermináveis e conversas francas, fazê-lo acreditar mais em si mesmo e na sua inteligência, amá-lo. Sim, amá-lo com toda a sua imensidão de mulher e cuidar dele, porque quem ama, cuida - já lhe dissera a sua avó sábia.
-Tu foste o único que me devorou a alma, que me roubou o sossego; e quem colhe uma flor deve cuidá-la, fazê-la desabrochar e guardar-lhe o perfume vivo. - foram as palavras que ela soube dizer para o reconquistar.

Era teimoso mas ela conseguira penetrar-lhe um pouco no coração ferido e cansado, sabia desde o primeiro instante que estavam destinados a envelhecerem juntos e fora ele o primeiro a dizê-lo: - já imaginaste, quando formos velhinhos a passear os nossos netos? A avó mais gira ao meu lado - dissera-lhe mais ou menos assim numa noite de namoro ao luar, no banco detrás do toyota vermelho (como o seu Benfica).
-Não sabes mesmo porque te quero? Porque te amo e não abro mão de esperar, de te ter de novo no peito? - os olhos dela vertendo uma pequena lágrima, questionou-lhe com profunda crença.
Ah meu doce, não é difícil entender...porque és o pedaço de alma que perdera ao nascer, és o alimento dos meus dias frios e és o meu sorriso nas noites de tempestade. És tu o bater do meu coração, o orgasmo que me dá vida ao corpo e me sustenta as entranhas do prazer, és o sol e a lua em momentos de dúvida...e eu sou assim, só tua!!»*

*by Nádia S.

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