terça-feira, 24 de junho de 2014

MODUS OPERANDI






                Vamos supor que o estado quer gerar riqueza e que realmente se preocupa com os cidadãos por isso resolve criar uma cadeia de supermercados low-cost, claro que os seus funcionários seriam os excedentes da função pública.

                Fazemos as compras e enchemos o carrinho que tens uma roda torta e outra sem rolamentos, com o carro cheio e a transpirar em bica lá chego à caixa onde já estão duas senhoras de idade a falar de como estão mal de saúde, um senhor a cheirar a cão morto e um pedreiro que deu lá um salto para comprar um colher de pedreiro e está vermelho de raiva por estar à espera há meia hora na fila.

                Olho em redor para fugir daquela fila, mas das outras 5 caixas duas estão fechadas, as funcionárias de outras duas caixas estão a discutir sobre a novela de ontem e a 5ª está a organizar os papéis do dia anterior.

                Ao fim de 52 minutos chega a minha vez, pois as senhoras idosas tiveram a mostrar fotos dos netos à operadora de caixa que disse que ia ser avó para o mês que vem mas desconfiava que o bebé não era do filho pois a nora era uma galdéria…

                Começo a pôr as compras no tapete e a operadora sai para ir não sei onde… espero mais 10 minutos até ela regressar…
                Começa a passar os produtos…
“tem de aguardar um bocadinho, o sistema está em baixo…”

                enquanto isso, olha para as compras e diz…
“pois, você tem aí carne…”
- tenho! porquê?
“a carne não é nesta caixa, a carne é na caixa 4”
-porquê?
“não me levante a voz se faz favor, quer que chame o meu chefe?”
-não estou a levant… ok, eu tiro a carne!
“e também tem peixe?”
-sim, tenho…
“pois, esta caixa também não é para o peixe… é na caixa 2!”
-… ok… o sistema já voltou?
“sim, sim…”

                Deixo os sacos no chão, tento voltar atrás para levar a carne à caixa 4 e o peixe à caixa 3…
“olhe! desculpe! não pode passar por aqui, tem de entrar pela entrada principal!”

                Com a temperatura a subir, dou a volta e vou para a caixa 4 onde espero mais 38 minutos, pois ainda estavam a discutir a novela…
“sim? deseja alguma coisa?”
Sim, quero pagar a carne…
“haaa… está bem…”

                Pago a carne, vou levá-la para junto dos outros sacos, dou a volta toda para reentrar pela entrada principal e dirijo-me à caixa 2 para pagar o peixe, onde aguardo mais 18 minutos para que ela acabe de organizar os papéis…

“isso é peixe?”
não, é um alpinista que ficou preso nos Pirenéus e acabou de descongelar!
“as pessoas não têm educação nenhuma!!! ainda para mais, o peixe é na caixa 1!!”
mas não está lá ninguém!
“mas devia estar!”
mas não está! e agora?
“não sei, espere um pouco, pode ser que apareça alguém….”

                Desistes de trazer o peixe, pois os congelados que estão no saco já não têm esse nome e antes que tudo se estrague sais dali a correr!

                Não fui a um supermercado, mas fui fazer o cartão de cidadão!!! o pior é que daqui a 5 anos tenho de lá voltar…

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